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O ESCRIVÃO: A VOZ QUE ESCREVE O SILÊNCIO

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Há ofícios que ecoam em discursos. E há aqueles que, em silêncio, sustentam o próprio alicerce da Justiça. Assim é o Escrivão: arquiteto da memória, guardião do fato, tradutor do humano em documento. 

Enquanto o mundo grita, ele escuta. Enquanto a sociedade oscila entre verdades e versões, ele registra. Enquanto a Justiça exige clareza, ele organiza o caos com as mãos e a mente — não como mero reprodutor de palavras, mas como intelectual do processo, humanista do detalhe, cronista da verdade que muitos prefeririam esquecer. 

Da pena ao pixel, da máquina de ferro aos sistemas digitais, o Escrivão escreveu a própria evolução. Suas mãos, que dominaram a caligrafia, hoje comandam tecnologias complexas, carregando nas teclas o duplo peso da palavra: a que liberta pelo registro exato, e a que pune pelo testemunho imprescindível. 

Com cada revolução tecnológica — do papel ao processo eletrônico — coube a ele absorver funções, acumular saberes e reinventar-se, sem que a valorização acompanhasse sua trajetória. A evolução, que prometia alívio, trouxe mais carga; a especialização, que deveria distinguir, tornou-se obrigação invisível. 

Eis o paradoxo do Escrivão moderno: sua competência se expande, seu arsenal cognitivo se amplia, mas o reconhecimento permanece estagnado no tempo. 

Ele não apenas desliza letras sobre o papel: dá forma jurídica ao drama, voz processual ao silenciado, eternidade documental ao transitório. Cada auto que escreve é um ato de resistência contra o esquecimento. Cada termo que lavra é um compromisso com a história que ainda será lida. 

Sim, há sobrecarga. Há plantões que atravessam madrugadas. Há desproporção entre o valor da missão e o reconhecimento recebido. Mas há, acima de tudo, a honra de ser ponte — entre o fato e o direito, entre a vida e a lei, entre o cidadão e a Justiça.

Hoje, 5 de novembro, não celebramos apenas uma função. Celebramos a presença intelectual e moral de quem, muitas vezes invisível, assegura que nenhuma história se perca, que nenhum direito seja ignorado, que nenhuma verdade fique sem registro.

A você, Escrivã e Escrivão, que transforma a tinta em testemunho, o silêncio em documento, e o dever em legado: 

Parabéns. Que sua escrita continue a ser farol em tempos de apagão moral, e que sua atuação, um dia, receba a valorização que já merece — não apenas nas leis, mas na consciência de todos. 

Antônio Carlos Ribeiro Soares

Escrivão de Polícia Civil – Aposentado (Maranhão)

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